Carência

Certo dia eu estava ouvindo uma música intitulada: “Fico assim você”. Dentre os diversos versos, a canção enfatiza que “eu não existo sem você”. Parei para refletir a respeito disso e percebi que, no fundo, todos nós temos uma certa carência. Seja de estar perto dos pais, dos filhos, da família, de algum amigo especial ou de uma pessoa especial. Viver sozinho é difícil e não termos alguém para compartilhar os bons momentos nos faz parecer que eles não são tão bons assim e o contrário também é válido, nos faz parecer que os maus momentos são piores do que imaginamos. Isso pode nos levar a uma tristeza muito grande e em alguns casos, até mesmo a uma depressão. E não digo isso pois acredito que possa ser verdade.
Afirmo isso pois já passei por essa situação. Em um certo momento da minha vida com medo de não ser aceito, com medo de não ser bom o suficiente, com medo de ficar sozinho tomei uma das piores decisões da minha vida, eu fugi. Fui morar a 500km de distância da minha família e decidi que iria começar uma nova vida, sem conhecer a cidade, sem conhecer as pessoas, sem nenhum propósito bem definido, eu apenas fugi. Nos primeiros seis meses a sensação de liberdade, de independência e o poder de total autonomia nas minhas decisões foi incrível. Ninguém me conhecia, ninguém me aconselhava, ninguém guiava meus caminhos e eu me sentia um pássaro fora do ninho voando longe.
O tempo foi passando e eu comecei a perceber que eu não tinha vínculo nenhum com ninguém daquela cidade, eu estava livre mas estava sozinho. Minhas novas amizades eram superficiais e não havia uma pessoa em que eu pudesse partilhar todas minhas angústias. Um ano depois desse fuga me retraí completamente, não vi mais propósito para viver. Tentei me conectar mais profundamente com as pessoas e foi tudo em vão, mesmo num mundo conectado, com a internet e muitas formas de comunicação, quem eu queria mesmo que se comunicasse comigo, não comunicava. Diante dessa situação de carência reprimida, eu me tranquei no meu quarto e desisti de viver. Quando algum familiar me telefonava eu dizia que estava tudo bem pois não queria preocupar ninguém. Entrei em um processo de depressão que foi só piorando com o passar do tempo, não tinha forças para sair da cama, só levantava para usar o banheiro ou quando a fome atingia um patamar muito algo. A solidão era meu pior castigo, eu queria um ombro amigo, queria um abraço, um conforto e tudo que eu tinha eram minhas lágrimas sobre meu travesseiro. Um ano e meio após ter abandonado minha família, o filho pródigo retornou, os danos colaterais tinham sido muito profundos em minha saúde emocional e mesmo de volta em casa não consegui me reestabelecer. Precisei de ajuda psicológica, psiquiátrica e de até mesmo uma internação em uma clínica para transtornos mentais.
O que eu eu consegui tirar de positivo de toda essa situação é que ninguém vive sozinho e que a menos que você tenha um espírito livre e desprendido de conexões emocionais, dificilmente seremos completos. É inútil ignorar o fato que a vida é muito melhor quando temos um amigo do lado. Somos carentes por natureza e também é natural do ser humano se identificar e criar laços com outro seres humanos, senão com a família, talvez com amigos e até mesmo com um parceiro. Se você se sente sozinho, carente e triste por não ter a atenção daquela pessoa que você desejava, meu conselho é não fuja, não desista e dê-se a chance de conhecer pessoas novas. Nunca sabemos o que a vida reserva para nós, isso só o tempo dirá mas uma coisa é certa, os melhores momentos de nossas vidas acontecem enquanto estamos em busca de algo. Então nunca deixe de procurar, não se deixe abater, não se feche para o mundo. Permita-se viver, permita-se ser feliz!

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