Amor próprio

É recorrente ouvir que ao assistir televisão, nada se aprende. Mais comumente hoje se diz que ao consumir entretenimento na internet, nada se agrega. Eu não sou ninguém para concordar ou discordar dessas afirmações, só posso afirmar que comigo é diferente. Eu sempre pauso vídeos, músicas e até mesmo filmes para anotar algo de interessante que notei. E dessa vez não foi diferente, eu estava relembrando uma novela infanto-juvenil que eu assistia a uns anos atrás. Na época, todos diziam para eu estudar, fazer algo útil, melhor aproveitar meu tempo e diversos conselhos que eu recusei. Tem coisa melhor que agregar conhecimento com diversão? Pois bem, ao reescutar a trilha sonora dessa novela me deparei com uma musica intitulada: “Do jeito que eu sou”. A letra me fez refletir no quanto submetemo-nos aos outros apenas para sermos aceitos, sermos reconhecidos... 

Nesse processo, mesmo sem perceber, abrimos mão de nossa essência, de nossa personalidade, nossos desejos apenas para satisfazer um terceiro. Evidentemente, como tudo na vida, faz-se necessário haver uma mediação em tudo em que envolve nossas existências. Para viver em sociedade, precisamos ter flexibilidade, ponderação e respeito uns pelos outros. Entretanto, não precisamos deixar de ser quem nós realmente somos só para agradar os outros. Não escrevo isso porque é o politicamente correto, nem nada. Escrevo isso, pois passei por esse momento de submissão e de ser outra pessoa apenas para agradar, durante os primeiros 19 anos da minha vida, eu me retrai é só fiz aquilo que minha família mandava. Fui o filho perfeito, o mais educado, um dos melhores da escola, o mais bondoso e também muito tímido e infeliz. Minha timidez não era uma característica natural minha, era um subterfúgio para esconder quem eu realmente era. Fui ensinado que um menino deve ter sentimentos por outra menina, namorar e constituir uma família. Eu até tentei seguir esse caminho, não por escolha própria, e sim para ter aprovação da minha família. Encontrei uma menina que cursava o mesmo curso que eu na faculdade, tínhamos muito em comum e eu acabei desenvolvendo sentimentos por ela, de uma grande amizade e não de amor, mas eu não sabia distinguir na época. Ela foi minha primeira namorada, ficamos juntos por um ano e devido a minha imaturidade e confusão de sentimentos, chegamos a um término consensual. Eu nunca tinha chorado tanto em minha vida, não pelo fim do relacionamento. Mas sim pela frustração de não ter constituído uma família e consequentemente ter sido um orgulho para meus pais. Como eu sofri! O tempo foi passando, eu aprendendo sempre com todo conteúdo que eu absorvia e começando a valorizar mais quem eu sou do que o que as pessoas pensam de mim. 

Porém, ainda com medo da retaliação familiar, mudei de cidade para tentar recomeçar minha vida, essa decisão trouxe muitos pontos negativos em minha vida, eu acreditava que era um recomeço, mas eu não tinha a menor ideia do que eu estava fazendo, no fundo era uma fuga e sofri muito por isso. Todavia, houve um ponto positivo, eu estava rodeado de pessoas que não me conheciam, que não esperavam nada de mim, não me guiavam em nenhuma direção e eu pude seguir meu coração. Em meio a esse misto de sofrimento e liberdade, eu aprendi a dar valor a minha presença, a me amar como eu sou e mesmo quando eu sofri todas as represálias que essa decisão me causou, eu aceitei a minha essência e percebi que eu não era igual aos outros e nem tinha que ser. Antes eu era amado por todos, depois tive alguns que continuaram me amando e outros que prefiram se distanciar de mim. No começo foi difícil, muito difícil, eu assumo. Mas depois que as pessoas começaram a se aproximar de mim exatamente por quem eu era, não tinha sensação melhor. Eu não tinha que mudar por ninguém, não precisava fazer as vontades de nenhum ser humano, eu só tinha de ser honesto e ser do meu jeito. E quando nós nos amamos, nossa vida não é perfeita, longe disso, mas é muito mais fácil de ser vivida, eu me amo, se ame também!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Depressão, mania e bipolaridade

A dor de fora ameniza a dor de dentro

Carpe Diem