A dor de fora ameniza a dor de dentro

Certo dia, cá estava eu muito chateado com certas situações que ocorreram em minha vida. Todas as dificuldades, toda a falta de encorajamento, toda a necessidade de mostrar um elevado equilíbrio emocional, toda a carga de responsabilidade para ser alguém notável na vida. Acabei descarregando toda essa tensão em respostas ofensivas, a falta de paciência e até mesmo em humor de mal gosto. Quando o momento de liberação de energia negativa passou, senti-me muito mal; e realmente vi que palavras não são desfaladas e ações não são desfeitas, o que restava era tentar corrigir meus erros. Solicitei pedidos de desculpas, tentei refazer minhas ações e no fim não tinha mais o que eu pudesse fazer, só restava deixar o tempo fazer o seu papel e torcer para que minhas relações não fossem muito prejudicadas. Aquela sensação de não saber o que pode, ou não, acontecer é horrorosa. Naquele momento vi-me com uma carga emocional negativa muito pesada e qualquer ato negativo dirigido a mim, poderia ser o estopim para uma crise. Dito e feito, fui humilhado, dentro da minha própria casa, pois minha opinião era contrária a da pessoa que me atacou. Não tinha forças para iniciar uma discussão e meu peito doía, literalmente. Apenas fiquei em silêncio, segurei minhas lágrimas e dirigi-me ao banheiro para tomar uma ducha. Na época, o tempo estava muito quente e os ventiladores da casa estavam ligados, uma ducha fria seria muito refrescante. Mas não, coloquei o chuveiro na temperatura mais quente possível e adentrei-me debaixo das águas que pareciam estar livrando todas minhas dores interiores. Naquele momento não chorei, apenas deixei a água escorrer queimando pelo meu corpo, diminuí o fluxo da água para que ela pudesse vir mais quente ainda, minhas costas já estavam ardendo. Naquele momento eu não conseguia pensar em mais nada, só em sair daquele chuveiro antes que sofresse alguma queimadura, a dor física era iminente e eu não conseguia controlar. Antes que eu saísse do banho, arranhei minhas costas com as unhas para que sentisse ainda mais o calor da água. Ao sair, a sensação de dor era alta, mas logo foi diminuindo. A dor física se sobrepôs a emocional. Após isso, saí de casa para terminar de espairecer e refletir. Esse ato me ajudou a entender o porquê existem casos de pessoas que se automutilam. A dor psicológica deles é tão profunda, as lembranças ruins acabam chegando para complementar a imensa tristeza e parece que não há mais saída. Diferentemente da dor física, a emocional não chega e vai embora com o tempo. A emocional chega e aumenta com o tempo, e não conseguimos encontrar métodos iminentes para diminuí-la. Ao ver que não há mais como superar uma situação tão complicada, cada um reage de uma forma, uns utilizam da raiva, quebram bens, machucam pessoas, também há aqueles que gritam, que perdem a razão... Também há aqueles que se retraem, se escondem em algum lugar que consideram seguros, se fecham para não magoar mais ninguém, aqueles que choram em público, aqueles que choram sozinhos, existem diversas reações, mas não nos podemos nos esquecer daqueles que cortam a si mesmos. Muitos têm a deia errônea de que fazem isso para ser notados e que não passa de um simples ato de chamar atenção. Evidentemente, cada caso é um caso. Creio que ela possível uma pessoa que sofra de uma carência não ressarcida pelos próximos que ela só vê uma saída para ser notado, assim sendo esse mais um dos motivos da autoflagelação. No entanto, o motivo que quero abordar neste texto é aquele em que é tão árduo o fardo emocional que a única saída para esquecer de tudo isso é sofrendo fisicamente. Arranhões pelo corpo, machucados voluntários e até mesmo cortes. A dor física se sobrepõe a emocional, e quanto maior o peso emocional, maior será o dano físico, e se não controlado, ao longo do tempo pode levar até mesmo ao suicídio. É muito importante dar atenção as dificuldades das pessoas, pois por mais que parecem bem exteriormente, por dentro pode estar uma bagunça, e só com muito amor, carinho, compreensão e respeito que podemos mudar a realidade de alguém que não esteja bem.