Rotina

Acorde, tome um banho, vista um uniforme, tome café da manhã, escove os dentes e vá trabalhar. Depois almoce e volte a trabalhar. Volte para casa cansado, assista TV e durma. Repita cinco vezes por semana durante um mês. 

No dia do pagamento vá ao mercado, compre o mínimo necessário para sobrevivência pois logo em seguida terá de pagar aluguel, água, luz, telefone, internet e cartão de crédito que nunca abandona, repita durante doze vezes durante um ano.

Depois, venda suas férias e pague as dívidas atrasadas. Não esquecer de também se endividar novamente para poder talvez comer algo diferente no Natal e celebrar o próximo ano. Para os mais ousados, saia de férias e curtam e não esqueçam de parcelar em 12 vezes sem juros no cartão. Repita um vez por ano até se aposentar, falir, ou ser demitido.


Lembro que quando comecei a escrever para internet, lá em março de 2011, eu tinha um propósito. Eu queria expor para o mundo toda a confusão mental que acontecia dentro da minha cabeça e queria mostrar tudo que eu estava fazendo para poder sair dela.

Eu me sentia muito sozinho, um estranho fora do ninho, nunca tinha feito até nenhum grande laço de amizade e muito menos um interesse romântico. Eu me sentia deslocado, diferente e até um pouco incompreendido. Eu precisava por tudo isso pra fora.

Eu acreditava que escrevendo eu poderia me encontrar e ajudar outras pessoas a se encontrarem também, lembro que quando criei o blog, eu precisa escrever um texto de descrição do perfil do autor. E eu lembro que a minha descrição era pura e simplesmente: "promover a paz".

Naquela época, eu tinha muitos traumas de muitas brigas, discussões e tinha visto muito ódio ao que é diferente, eu não sabia muitos conceitos, então na minha cabeça de adolescente de 15 anos, tudo que eu queria ao escrever, era promover a paz, a inclusão, a empatia, o respeito.

E esse meu objetivo foi me levando a escrever naturalmente, não existia nada de inspiração, era minha vida que eu escrevia, era meu coração, meus anseios, era tudo muito fácil. Não tive esforço. Meu primeiro texto foi uma autorreflexão sobre a vida. De onde estamos e de onde queremos ir.

Só em 2011 eu escrevi, e publiquei aqui neste blog, cerca de 40 textos, foram 40 reflexões de março a dezembro daquele ano. Então tudo fluía muito bem, eu comecei a ter grandes acessos, cheguei a receber uma carta do Google me convidando para anunciar no blog.

Mas eu não queria anúncios, não queria ganhar dinheiro em cima dos meus textos, por alguma razão, eu achava isso errado. Na minha cabeça, da época, se meu objetivo é promover a paz não posso nem pensar em receber dinheiro por meio disso.

E assim, a vida foi seguindo. Mudei de cidade em 2012 para fazer meu último ano do ensino médio em uma escola preparatória para vestibulares. A pressão para ingresso em uma faculdade era grande e acabei deixando de lado meu projeto.

Em 2012, escrevi apenas 14 textos. O primeiro deles era uma forma mascarada de dizer que eu não aguentava mais viver me privando de ser quem eu era, eu estava muito agoniado, foi um ano em que eu estava muito incerto de tudo.

No ano seguinte, ingressei na então esperada faculdade de engenharia de computação. Na minha cabeça, de menino do interior, como eu gostava de escreve no computador e se eu soubesse mais sobre o computador eu poderia alavancar meu blog.

Eu acreditava que seria positivo a graduação para meu projeto, talvez seja um defeito meu, mas eu tento ver o lado positivo de tudo. Mas a faculdade me consumiu muito, e apesar de ser escritor e amar escrever eu também eu amo exatas, mas não tanto.

Em 2013, escrevi apenas 5 textos. Mas foi um ano especial, pois foi a primeira vez que escrevi um conto, uma história. Um dos meus textos foi uma narrativa e amei a experiência de escrever uma história e fiquei muito feliz quando vi que esse texto foi muito acessado também.

Mas nem isso foi suficiente para me fazer conciliar o projeto desse blog com a  faculdade. Nos anos seguintes fui ficando cada vez vez mais focado em formar, troquei de curso, troquei de faculdade e me formei como engenheiro de produção em 2020.

E aí chegamos ao começo desse texto. Nos primeiros três parágrafos eu resumi meus últimos três anos da minha vida, desde 2020 até hoje, 01 de outubro de 2022. Curiosamente também representei minha mãe e também minha vó. Será que é genético? Rs.

Creio que parte do que me impediu lá atrás de ganhar dinheiro com meu projeto também fosse a dúvida de mim mesmo. Naquele tempo, eu me encontrava no segundo ano do ensino médio, e logo viriam as dúvidas de o que fazer após a conclusão do ensino médio.

Mas hoje, 11 anos depois, aos meus 26 anos, há três anos preso na rotina inicial desse parágrafo, eu paro e penso: "Será mesmo que não era certo?", "Será que não posso pagar minhas contar fazendo algo que amo?" e principal pergunta: "Será que é possível, será que realmente serei lido?"

E quer, saber? Não sei se é possível, não sei se dará certo, só sei que eu amo escrever e se não der certo, tá tudo bem. O que eu sei, é que não vou mais colocar a culpa na minha rotina para deixar de fazer as coisas que amo.

Se for pra ser, será. Se não for, não foi por falta de tentar. Ergue a cabeça, bola pra frente e bora para a próxima tentativa. Seja na própria carreira, ou não. Seja tentando um cargo novo, ou abrindo o próprio negócio. O importante é se sentir bem.

Obrigado a todos e sejam bem-vindos ao Virtudes =]

Comentários

  1. Fico extremamente feliz por saber que está voltando a escrever, pois é seu prazer, algo que te move e que te faz bem. Infelizmente a rotina, contas são importantes na vida adulta, mas devemos sempre parar e olhar para nós com cuidado e carinho, se o que te faz feliz é estar colocando seu pensamentos e forma organizada no site e/ou em papel faça isso e saiba que sempre estarei aqui pra te apoiar e incentivar em toda decisão.


    Com amor, Carlos Alexandre

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