Solidão


Para muitos, a solidão tem um significado meramente físico, em outra palavras, só estão sozinhos aqueles que ou desertaram suas casas, suas famílias, ou aqueles que se tornaram órfãos ou foram abandonados. Entretanto, ao meu ponto de vista, tem um significado muito mais amplo. Estar rodeado de pessoas não garante a ausência desse sentimento, assim como estar em um lugar ermo não significa que estamos só.
Estar só significa estar só em um plano espiritual, em um plano sentimental, em algo muito superior que o plano físico. Existem muitas famílias que estão sempre sorridentes nas redes sociais, que sempre se apresentam como uma família unida, feliz e realizada. Entretanto, há sempre discórdia entre os membros, há uma desconexão entre pais e filhos e até mesmo há mais tristeza do que alegria.
E curiosamente, há pessoas que estão, no plano físico, sozinhas, e estas, por sua vez geralmente, não têm necessidade de mostrar as outros que são felizes pois a sociedade já os julga por não estarem fisicamente com família e parentes. E, mesmo assim, estando fisicamente sozinhas, elas são cheias de vida, sempre em contato com o plano espiritual, seja ele qual for, e essas pessoas são realmente felizes.
Muitos podem afirmar que existem famílias grandes e reunidas e felizes e que há pessoas sozinhas tristes. Sim, é impossível generalizar todos os casos existentes no mundo. O fato é que estar triste, se sentir sozinho é uma questão de falta de força de vontade. Irei expor minha vida pessoal para exemplificar. Nasci e fui criado no interior de Minas Gerais em uma pequena fazenda da região. Meu pai suava diariamente para manter as contas da família e eu mal o via, minha mãe se dedicou os primeiros anos de minha vida só a mim e acabamos criando um vínculo muito forte, até ouso dizer um vínculo de dependência.
Criado isolado do mundo com pouco contato com mundo real, acabei sendo criado numa bolha de amor, compreensão, respeito, lealdade e felicidade. O mundo perfeito! Faz quase dez anos não moro mais nessa fazenda, mas sempre que posso volto lá para recordar a melhor parte da minha vida. Quando eu vivia lá, pois mais que eu não tivesse contato com um mundo externo, eu nunca me senti sozinho. Na verdade quando eu me senti mais sozinho foi quando mudei de lá. Meus pais querendo o melhor para o meu futuro, sugeriram que eu entrasse em um curso de técnico de eletrônica para que eu fosse melhor qualificado no mercado de trabalho. Foi então que aceitei a sugestão e aos meus 13 ou 14 anos de idade mudei para uma cidade bem maior e a 150 quilômetros de casa. 
Lá estava eu, ansioso pela nova experiência. Morando numa pensão onde poderia ter feito vários amigos, almoçando em locais com grande público e estudando numa escola que me dava várias opções de aprendizado e entretenimento. Estava rodeado de pessoas 24 horas por dia e eu nunca fiquei um dia sem chorar. Não conseguia fazer vínculo de amizade com ninguém pois eu não sabia como agir, não conseguia me divertir pois naquela época não tinham muitas opções de entretenimento para uma única pessoa. 
Resumindo, minha experiência durou apenas 6 meses, quando voltei para minha cidade, meus pais estavam separados, tinha um irmão mais novo, fui morar com minha avó e minha mãe mudou de cidade pois tinha passado em um concurso público federal. Minha bolha havia se desfeito e meu mundo perfeito havia acabado, a solidão novamente havia se instaurado em meu coração, tomei muitas decisões erradas tentando não me sentir daquele jeito, caí algumas vezes, mas resolvi pedir para minha avó ser meu alicerce e ela me ajudou em cada momento difícil e se eu sou quem em sou hoje em grande parte é graças a ela e a muitas outras pessoas também, eu confiei e deixei a vida fazer o seu papel e hoje afirmo que minha tristeza dura pouco, pois quando tudo começa a desmoronar, eu lembro de minha avó, dos conselhos, da história de vida dela, enxugo as lágrimas e sigo em frente!

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