Depressão, mania e bipolaridade

Durante uma de minhas reflexões, pensei o seguinte: "Por que será que há tantos jovens sofrendo com a depressão, ou com surtos de euforia e até mesmo com transtorno bipolar?" Tenho uma opinião diferente da popular, muitos me disseram que depressão é doença de rico e pobre não tem dinheiro para isso, chegaram a me dizer: "depressão de pobre é ter que trabalhar para pagar as contas". Provavelmente muitos não compartilharão dos mesmo pensamentos meus, mas meu objetivo não é agradar a todos e sim ser justo e ajudar aqueles que precisam, e nesse texto meu foco é com os jovens. Eu não creio que a depressão seja somente para ricos, muitos pobres a têm e nem sabem, eles acabam se tornando excluídos socialmente, outros reagem sendo ríspidos com a sociedade e o mais comum são aqueles que os pais chamam de "muito tímido", mas na verdade estão num processo de depressão e conseguiriam vencê-la se tivessem ajuda direcionada.
Em alguns casos, a depressão ainda é entendida, o jovem é acolhido e com a força familiar ele consegue vencê-la. Tudo parte de uma estrutura familiar com muito amor, apoio e conversas e honestidade. Quando o jovem é criado nesse cenário ele se sente mais confortável para pedir ajuda, não se sente julgado e os sinais de depressão são melhor evidenciados. Infelizmente, os surtos de euforia (também conhecidos como picos de mania) são bem menos entendidos. Durantes esses eventos, o jovem chega a perder a noção de realidade, esquece os conceitos de certo e errado e acaba, de fato, surtando. Ele não vê mais saída, vê-se num caminho sem saída, preso numa realidade em que não está feliz. Estes episódios são interpretados por muitos como rebeldia, ou até mesmo fase da puberdade. Confesso que realmente deve ser difícil diferenciar, mas o conselho é o mesmo que nos casos de depressão, quando se há uma rede de amor envolva da pessoa, tudo fica mais evidente.
Agora, se é difícil identificar e auxiliar quem sofre de depressão, muito mais difícil quem sofre de mania, por incrível que pareça, o diagnóstico da bipolaridade é muita mais fácil. Pois, reflitam comigo, a depressão pode ser entendida, de maneira errônea, como timidez excessiva e "apreciação por ficar reclusa". O transtorno de mania, também de maneira equivocada, como rebeldia incontrolável, "vontade de aparecer". Mas qual será a explicação que darão para aqueles que sofrem das duas adversidades? Como uma pessoa pode ter apreciação por ficar reclusa e ter vontade de aparecer, ao mesmo tempo? Como uma pessoa pode ser extremamente tímida e ser um rebelde infreável? Eu não duvido da parvoíce humana, então certamente tentarão achar respostas inadequadas a essas repostas. Podem falar o que for mas, falar por falar, não ajudará em nada. A solução é sempre a mesma, aconchego familiar, aconchego entre os amigos, aconchego em qualquer que seja o meio social em que se vive. Muitas vezes somente isso não será necessário, mas é o primeiro passo.
É uma visão muito ultrapassada que doenças psicológicas não precisam ser tratadas, se é que isso já foi uma visão um dia! O apoio é fundamental, é muito difícil, faz-se necessário relevar o que a pessoa que está sofrendo diz, pois muitas vezes pode magoar. Quem é pai e ama, ver o filho dessa forma, é uma tristeza muito grande. Quando o apoio não é suficiente e o responsável se sente incapacitado, é uma dor que não tem tamanho. Eu vi meus pais sofrerem em diversas situações da minha vida, durante os diversos momentos de depressão e também (e creio que sofreram até mais) durante meus surtos de mania. Eu tive todo o apoio familiar e a melhor base que alguém sonha em ter, mas mesmo assim, não sei ao certo porquê, sofri com a bipolaridade. Meu surto final foi o ponto culminante em minha saúde psicológica, fiz e falei coisas irreparáveis, muitas não me recordo, mas me contaram. Machuquei muitas pessoas, principalmente com palavras. Lembro-me como se fosse ontem, era período de férias, estávamos na cidade onde fui criado, todos estavam me olho em mim, pois em já estava como eles diziam "rebelde". E na verdade, eu só queria sumir. Estávamos, eu, minha mãe, meu tio e minha avó conversando nos fundos da casa. As portas estavam trancadas para que eu não saísse de casa. Eu disse que iria ao banheiro, simulei minha ida, pulei a janela, fugi e corri, o mais rápido que consegui, até a rodoviária da cidade. Com o pouco dinheiro que eu tinha, disse ao bilheteiro que queria a passagem do ônibus que mais rápido chegasse a rodoviária, não importando o local. Comprei a passagem e fiquei na espera do ônibus. É uma cidade pequena, não demorou muito minha mãe e meu tio me encontram e me levaram de volta para casa. Naquele momento eu estava sendo mais vigiado que em uma penitenciária federal, mas eu não me importava, tentei fugir de novo, meu tio meu segurou, eu tirei forças não sei de onde e consegui me soltar, minha mãe em lágrimas, me segurou e implorou para que eu não fizesse isso, mas eu não escutava nada, nem ninguém, a empurrei e pulei a janela. Ao sair da casa me deparei com o carro do meu pai, naquele momento só lembrei de quantas vezes ele não me deu o carinho que eu precisava e isso bastou para eu pular em cima do carro dele e pisoteá-lo, daí foram umas cenas de eventos e não teve mais jeito, tive que ir para uma internação ambulatorial no hospital para me "acalmarem". Resultado: Mesmo dopado de medicamentos, fugi do hospital, e depois de inúmeras tentativas de todos meu familiares, não teve outra saída, eu precisava ser internado em uma clínica psiquiátrica. A clínica psiquiátrica mais próxima do hospital em que eu estava ficava a 200km dali. Disseram-me que eu fui de ambulância, mas eu estava dormindo, então não me recordo. Mas a memória é vívida no momento em que cheguei. Dois homens musculosos me segurando pelos braços para me direcionar ao meu quarto, e eu gritando, implorando para não ir, mais um momento de surto se iniciou e um comecei a chutar uma porta que eu acreditava ser a porta de saída da clínica, dias depois descobri que destruí a porta de um quarto, não a de saída. Diante do meu surto, houve uma retaliação. As punições ali eram mais severas... É como dizem, aprenda em casa com amor do que na vida com a dor. E realmente foi doído, meus braços, pernas e tórax foram amarrados na cama do quarto, mas com tanta força que eu não conseguia mover um centímetro. Muito se aconteceu enquanto eu estava amarrado, um outro interno, aproveitando que ninguém se importava com meu gritos de socorro e também da situação que ninguém queria ir no meu quarto, num momento de profunda depressão, ele subiu na minha cama com um lençol, amarrou-o na grade da janela do meu quarto e tentou suicídio. Depois de muitos pedidos de ajuda e insistência, alguém apareceu e tentou salvá-lo, ele ficou em coma e eu continuei amarrado. Nunca mais tive notícias dele, a clínica não era muito comunicativa em relação a esse assunto. Bem, meus primeiros dois dias de internação foram amarrados numa cama sem comer, sem dormir, apenas tomando medicamentos na veia e ficando extremamente dopado, tão dopado que nem lembro de muito. Foi-me contado depois que eu estava extremamente sincero, expondo tudo que eu não gostava e também contado todas as minhas intimidades para as enfermeiras enquanto elas me davam banho. Quando soube disso, minha missão foi me desculpar com muitos, pois a sinceridade sem ponderação de palavras pode ofender, e isso nunca foi minha intenção. Enfim, fiquei um mês internado sem poder ver meus amigos, meus pais, nem ninguém, só os outros internados. Aconteceu tanta coisa lá dentro em um mês que renderia um livro.
Em resumo, quando saí de lá, não estava curado, estou em tratamento. Tive de ser afastado dos estudos, não podia trabalhar, não podia usar meu celular, não podia sair de casa, foi todo um processo com psiquiatras e psicólogos para que eu me torna-se apto a viver em sociedade novamente. Ao todo foi um ano desde o surto final até eu não precisar mais dos atendimentos psicológicos. Hoje, ainda frequento a psiquiatra, pois a doença ainda existe, tenho transtorno bipolar mas não apresento nenhum sintoma graças aos meus remédios. Só tenho a agradecer a minha família que, mesmo depois de todos meus surtos, nunca me abandonou. Eu acredito muito na lei do retorno, e pode ser verdade, como pode não ser verdade, mas eu encontrei textos meus refletindo sobre essas doenças psicológicas escritos quando eu tinha quinze anos de idade, neles eu dizia que com mais presença da família, os filhos nunca "desenvolveriam" uma depressão ou qualquer outro distúrbio psíquico. Minha primeira reação foi eliminar esses textos e reescrever esse. Eu sempre tive todo o apoio familiar, fui criado com muito amor, mas ainda me sentia sozinho e acabei passando por tudo que relatei. Isso não é culpa dos pais, não é culpa dos amigos, não é culpa da escola, nem é culpa da pessoa, não culpa de ninguém. Nós simplesmente nos sentimos diferentes e demonstramos isso de maneira incomum. Mas com ajuda, todos nós podemos viver normalmente e ter um futuro brilhante. Eu estou vivendo, estudando bastante, sempre aprendendo, recém concursado, trabalhando por honra e mérito, e sou muito feliz! E você, pode ser feliz também! Não tenha medo, procure ajuda! E para todos aqueles que se sentirem confortáveis para conversarem sobre isso comigo, deixo aqui meu e-mail pessoal para vocês: mateusmgbr@gmail.com

Comentários

  1. Que texto lindo, profundo e íntimo. Não sei o que passou, mas só te deixou mais forte para conquistar seus objetivos e sonhos, conte comigo pra tudo

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