Seja honesto consigo mesmo

Existem situações em nossas vidas as quais fazemos algo que não nos orgulhamos. Às vezes agimos por impulso, ocasionalmente falamos no calor da emoção, ou apenas expressamos nossa sincera opinião. Mas também, por vezes, não sabemos a razão de fazermos o que acabamos de fazer, e isso pode gerar um futuro arrependimento. Minha mãe sempre me ensinou que todos temos um cercadinho e não podemos invadir a cerca do vizinho sem autorização. Em outras palavras, elucidando Herbert Spencer, “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro.". Quando abusamos de nosso livre-arbítrio, da nossa liberdade de expressão podemos machucar alguém e isso pode indiretamente nos machucar. Um dos meus maiores erros foi sempre acreditar que eu nunca falava nada errado. Eu não me julgava como Deus, ou o dono da verdade, mas atribuía responsabilidade e veracidade onipotente a tudo que eu falava e sempre acreditava estar certo, quando eu expunha minha opinião. Este foi meu primeiro erro, pois eu poderia até estar certo para mim, mas o que é certo para mim, pode não ser para o outro. Eu poderia até ter uma filosofia de vida considerada ideal para mim, mas não para o outro. Diante desse complexo de estar sempre certo sobre minhas convicções, comecei a injustamente julgar outras pessoas. Não há nada de errado em ter princípios de vida e segui-los, mas isso é dentro da sua cerquinha, a vida do próximo só diz respeito a ele e você só pode opinar se autorizado e se sua opinião for solicitada, do contrário devemos seguir em frente e respeitar o outro como ele é. Salvo em casos de insanidade do indivíduo. Já me arrependi muito de falar o que o outro não queria ouvir, com a intenção de mudá-lo para melhor, mas na verdade, só serviu para machucá-lo, ele não mudar e eu ficar arrependido. Demorei para aprender a não moldar pessoas e sim aceitá-las, mas é algo que somente com muita reflexão, paz e bons conselhos que conseguimos entender.
O curioso é que eu sempre tinha uma opinião a respeito de alguém, sempre um julgamento na ponta da língua mas não aceitava quando isso acontecia comigo. Nunca permiti que alguém interferisse no meu modo de viver, sempre tinha contrarrespostas para tudo e nunca absorvia o que me falavam, somente expunha o meu lado. Até que um dia eu fui avaliado em um emprego, era minha primeira avaliação no emprego e tive uma nota abaixo do esperado. Naquele momento meu mundo caiu. Até aquele momento, eu sempre me julgava capaz, esforçado e determinado, ao ser avaliado com uma nota regular fiquei muito chateado, pois para mim aquela nota não me representava.
É muito difícil quantificar um ser humano racional, nós somos seres complexos e inteligentes, repletos de variáveis que nos compõem com atributos oscilando a cada segundo e fazer um estudo de tudo isso durante um significativo período de tempo e resumir em um número é muito difícil. Quando recebi o papel com minha nota, mandei uma mensagem pedindo para conversar com meu chefe para esclarecimentos, eu queria saber o porquê daquela nota. Enquanto ele não retornava minha mensagem, pedi uma caneta emprestada e começar e listar todos os motivos possíveis para eu discordar daquela nota, fiz tudo que eu poderia fazer, enfim conversamos e minha nota não mudou. Eu respeitei a opinião dele, até porque tudo que eu poderia argumentar logicamente e racionalmente eu já tinha falado. Dali em diante eu não tinha mais o que fazer, somente agradeci e saí, durante uma semana guardei isso para mim e fiquei muito triste, pois sempre me recordava daquela avaliação. Teve um momento em que eu não estava aguentando suportar sozinho a dor que eu sentia, eu compartilhei com minha mãe e com minha avó, em situações separadas. Ambas me ajudaram muito a entender que meu propósito não deveria ser a argumentação reativa e sim perguntar a chefia o que eu poderia melhorar no meu trabalho para que minha média subisse. Minha família me relembrou o conceito de hierarquia e principalmente a definição de uma das 7 virtudes capitais, a humildade. Foi nesse momento em que notei que todo o tempo dispensando procurando uma argumentação válida e positiva tinha sido em vão. A chave resumia em sermos mais humanos do que racionais, mais humildes do que perfeccionistas. Na teoria, você se doa ao máximo, leva um tapa no rosto e sua reação deve ser de oferecer a outra face. Na prática, você trabalha a ponto de não ter mais nenhuma energia, recebe uma avaliação ruim e sua reação deve ser de pedir desculpas, se não for capaz superar as expectativas, e pedir auxílio para trabalhar mais ainda. A vida é difícil, mas também é uma grande escada, os primeiros degraus são mais altos e difíceis de escalarmos, com o tempo eles se tornam menos íngremes porém mais extensos - também conhecidos como momentos de estagnação - mas não há recompensa onde não houve luta.
Com o tempo aprendi a não criticar sem ser solicitado, aprendi a receber críticas e transformá-las em algo positivo e vivo numa constante busca de ser uma pessoa melhor. Antes de ser assim, eu tinha uma personalidade minha contrária e meu maior foco era a minha necessidade de ser perfeito, eu me moldava num personagem que era capaz de agradar quase todos os públicos e que gostava de quase todos os interesses disponíveis, isso se tornou tão grande, que chegou um ponto que eu não sabia o que eu gostava de verdade, nem quem eu era, não sabia dizer não e não sabia ter opinião própria. Nesse momento da minha vida eu precisei de ajuda psicológica para tentar encontrar meu verdadeiro eu, foram alguns anos até que eu tivesse a minha opinião formada sobre a vida. Aconteceu que eu comecei a expor minha opinião e aconteceu tudo que já comentei. Meu propósito com todo esse texto é mostrar que já vivi os dois lados da moeda:
Um foi o que eu tinha necessidade de ser aceito, então tentava se aproximar ao máximo de todas pessoas, sem discernir se a pessoa irá fazer bem ou mal para mim mesmo. Extremamente imaturo, dependente e complacente. O outro, foi quando vivi a fase em que eu acreditava saber tudo o que queria e desejava que todos se encaixassem no meu modo de viver, de um modo ou de outro. Nenhuma das situações é saudável, o segredo é ser honesto consigo mesmo, aceitar suas falhas, abraçar suas imperfeições, respeitar a todos e seguir sempre sem invadir a cerquinha do vizinho e nem deixando que invadam a sua. Com isso em mente e sendo aplicado, a paz consigo mesmo automaticamente se instala. O resto a vida se encarrega de fazer dar certo, basta acreditar, ter coragem e ser gentil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A dor de fora ameniza a dor de dentro

Depressão, mania e bipolaridade